quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Capítulo Extra: A vida pós-intercâmbio

"Que a estrada se erga ao encontro do seu caminho
Que o vento esteja sempre às suas costas
Que o sol brilhe quente sobre a sua face
Que a chuva caia suave sobre os seus campos
E até que nos encontremos de novo
Que Deus o guarde na palma de sua mão."

Benção Irlandesa

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Caramba! Que saudades de escrever neste blog. Logar, clicar em "nova postagem" e escolher uma frase para o texto. Nostalgia boa de ser sentida. 

Já deixo avisado que este será um capítulo um pouco mais longo, porém se você tiver interesse e curiosidade, convido-lhes a compartilhar comigo esta experiência, a qual creio que você se identificará em alguma parte, se não agora, no futuro.

Após um ano do encerramento deste livro/blog volto para um post especial sobre o fim do intercâmbio e o re-começo da vida no Brasil. Afinal, existe vida pós intercâmbio? Sim, existe. É fato que ela demora um pouco para ganhar forma e sentido, mas com o passar do tempo ela aparece.



Uma vez ouvi de um amigo, um pouco antes de ir para o intercâmbio, que eu deveria me preparar melhor para voltar do que para ir. E isso me voltou a mente quando chegou o momento de partir e nunca fez tanto sentido quanto antes. Fiquei completamente anestesiado e longe da realidade durante a minha primeira semana em São Paulo novamente. Tudo estava diferente, todos estavam diferentes, o que havia acontecido? Bem, na verdade, eu que não era mais o mesmo e descobriria isso com o passar dos dias.

Neste período em que fiz meu intercâmbio, apesar de dividir a casa com dois loucos que eu tenho muitas saudades (Roberta e Vê), eu ganhei uma independência e uma rotina de vida que foi totalmente quebrada ao voltar a morar com meus pais. Você abre mão de algumas coisas, porém ganha outras em troca. Em resumo, não reclamo de nada, apenas agradeço. Se não fosse pelos meus pais e meus irmãos este intercâmbio não teria existido. Tenho vontade de morar sozinho novamente? Sim, mas o tempo chegará quando for a hora. Quando moramos na Europa e fazemos amizades com pessoas da nossa idade, vemos que a vida deles é diferente e a mudança de casa mais cedo do que nós é natural e meio que queremos aquilo para nossa vida também. Mas ao voltarmos percebemos que a vida aqui não é assim, e principalmente por motivos financeiros, nossa realidade é outra. Por isso, enquanto isso, eu aproveito a vida ao lado deles e, diga-se de passagem, muito feliz.

Engraçado que logo que regressei, eu já comecei os meus planos de voltar para a Irlanda novamente, muito por conta da minha namorada que havia ficado por lá. Mas também pelo país, pela cultura, pela cidade de Dublin e pelos mínimos detalhes que fizeram daquele um dos melhores momentos da minha vida. Minhas pedaladas para a escola e para o trabalho, minhas gororobas que eu apenas comia na sobrevivência, as visitas que recebi, as viagens que fiz, o som da buzina do Luas, as folhas pelo chão, o frio de congelar e a maravilhosa cerveja dos deuses, aquele líquido preto inesquecível, a Guinness. Pensei que nunca mais me acostumaria a viver aqui. Reclamava com meus amigos que eles não eram mais os mesmos e sentia um vazio em que não havia conexão entre corpo, cabeça e ambiente. Foi desesperador, mas muito rico ao mesmo tempo. 

Os aprendizados e as experiências que recebemos com o intercâmbio começaram a aparecer aqui e eu tive que assimilar e enxergar isto. Foi um ano espetacular, mas a vida continua e os aprendizados e vivências não param, apenas são diferentes, porém tão ou mais intensos e importantes. E, olhando para trás agora, vejo que tudo teve o seu tempo para acontecer e tudo o que aconteceu tinha que ter acontecido assim. Fui impaciente, fui injusto com a vida em minhas reclamações, fui apenas humano, demasiadamente humano. Mas, após a poeira abaixar, tudo isto deu lugar a gratidão.



Se cabe a mim dar algum conselho a alguém nesta mesma situação, eu repasso o que ouvi: prepare-se para o seu regresso e se planeje. Isto fará toda a diferença. Quando voltei, apesar de perdido, já tinha alguns planos e ideias em mente e uma delas, a maior mudança profissional da minha vida aconteceu. Abri uma agência de viagens (3R TUR) com meus irmãos e estou realizando o sonho de ser empresário e dono do próprio negócio. Trabalhando muito, aprendendo mais ainda e com sede de fazer muitas coisas na minha vida. O intercâmbio me ajudou a ser mais seguro, a acreditar mais que se eu batalhar as chances de eu conseguir serão maiores e, além disso tudo, foi uma viagem tão ou mais interna do que externa. 

Aprendi, mais uma vez, que pessoas passam por nossas vidas e, apesar de não continuarem no nosso dia a dia, levam um pouco da gente com eles e deixam um pouco deles conosco. Hoje posso dizer que tenho amigos espalhados por este planeta, os quais já pude rever alguns e outros eu ainda verei. E isto me emociona e muito ao receber um postal do outro lado do oceano em uma quarta-feira qualquer.

Meu namoro continua firme e forte e, como sempre estamos aprendendo algo novo, tanto eu quanto a Fanny tivemos que nos adaptar a distância. Pudemos nos visitar durante este ano, porém descobrimos uma dor e um aperto no coração que esperamos que acabe logo. Apesar da distância, me aproximei mais ainda de sua família e de seus amigos e isso me faz ser uma pessoa mais feliz, sem dúvida alguma. Te amo, meu amor!

Sei que o texto é muito sobre mim e, de repente para quem está lendo isto pareça egocêntrico demais, porém eu prefiro escrever na primeira pessoa e trazer as minhas experiências e falar com o coração, do que escrever na primeira pessoa do plural e ser superficial. 

Minha paixão em escrever aumentou muito com este blog e, apesar da dinâmica ser profissional, semanalmente produzo conteúdo para o Blog da 3R TUR, o que me lembra dos meus velhos tempos no blogspot. Continuo acompanhando os blogs de amigos irlandeses e muito conteúdo no youtube sobre intercâmbio. Sem dúvida que isto me ajuda muito no dia a dia do trabalho, além de toda vivência que tive. Mudar de área profissional não é algo fácil, porém quando no futuro olhar para trás na minha vida quero ter um sorriso de satisfação e não um olhar de arrependimento com a vida.

Você que nunca fez intercâmbio, faça. Não importa a sua idade. É uma experiência indescritível e algo que ficará marcado na vida para sempre. Afaste o medo, afaste os fantasmas do comodismo. Corra de braços abertos, você não se arrependerá!

Antes de encerrar, deixo um recado aqui para um lugar especial. Sim, você mesmo Dublin. Eu já sabia que você me enviaria as saudades quando eu decidi partir, porém eu não sabia que estas saudades seriam tão intensas. Não teve um dia sequer neste um ano que não lembrei de você, do chão molhado, dos pubs cheios ou do acolhimento que recebi. Me senti tão seguro em suas terras que aquele receio que tive antes de te conhecer se transformou em uma hesitação antes de voltar para a minha casa. Sei que deixei um pouco de mim por lá e trouxe uma parte comigo. Sinta-se à vontade em mandar as saudades para me fazer uma visita, mas neste momento estou me adaptando melhor com a ideia de ter você na minha vida como uma memória e um período especial inesquecível. Foram dias incríveis.



Um grande abraço para vocês, leitores. Foi uma honra poder dividir um pouco mais da minha experiência com vocês. Fé em Deus, Fé na Vida!

"Um dia fui viajar e foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta".

Thiago "Tôca" Santos