quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capítulo 44: Sul da França, um pouco da Espanha e Portugal

"Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar por si, com os olhos dos pés, para entender o que é seu"

Amyr Klink

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Aí chegou o dia que ela me falou:

- Thiago, está na hora de você conhecer o resto da minha família. Está na hora de você conhecer o meu pai.

Putz.

Após terminar o meu último trabalho, planejei com a Fanny uma viagem por três países durante 10 dias. Fizemos um roteiro bacana, procurando um espírito mais aventureiro e menos turista desta vez. Visitaríamos a família dela no sul da França (Biarritz, Bayonne, Pau, etc.) e partiríamos de carro rumo a Portugal, cortando pela Espanha. Até porque a outra opção seria pelo oceano.

Tudo o que não tomei de vinho durante a minha vida, tomei nestes dias. No meu relacionamento com a Fanny a nossa comunicação é em inglês o tempo todo, mas quando estamos com a família ou os amigos dela ou meus, a questão da língua é um fator importante que fica prejudicado. Não é tão simples assim se virar nos gestos ou sorrir o tempo todo. A falta de comunicação gera uma não proximidade, ou pelo menos uma proximidade menor daquela esperada, infelizmente. Um tem que traduzir para o outro o tempo todo, e nunca conseguimos traduzir 100% as expressões ou o contexto do momento. É a mesma coisa que pedir para repetir uma piada. Mas, apesar disso tudo procurei aprender algumas frases, conversar em inglês com quem podia, e quando não entendia nada, fazia o levantamento de copo.


Em apenas dois dias no sul da França, descobri o lugar que gostaria de passar o resto da minha vida. A cidade que fiquei fazia parte do caminho de Santiago de Compostela (se você já viu o filme The Way, sabe do que estou falando. Se não viu, vale o play). É uma outra realidade, uma outra arquitetura, uma outra forma de viver. Tudo é tranquilo, tudo é simples, e eles são muito família. Biarritz é uma das cidades mais chiques que já estive na vida, e por ter sido palco no passado de castelos de reis e rainhas que tiravam suas férias por lá, é uma casa mais bonita que a outra a cada esquina. Bayonne era a cidade que a Fanny morava, trabalhava e estudava. Ela procurou me mostrar algumas especialidades do local na parte culinária, e vou te falar, francês come bem demais, além de comer muito. Normalmente eles dividem a refeição em: entrada, prato principal, sobremesa e queijo (às vezes com salada) por último. No final da viagem o cinto da minha calça já estava pulando um buraco.

Já na viagem para Portugal, estávamos em quatro pessoas, pois o irmão dela e um amigo se juntaram à nós. Ouvi francês, falei inglês e traduzia pro português. Ou seja, se vocês já não me entendem aí no Brasil, imagina aqui? E que viagem sensacional! Pegar o carro, cortar uma país, rodar nas estradas até a perna reclamar. Que demais! Fizemos uma pausa em Salamanca, na Espanha. Conhecemos a cidade (tanto na ida, como na volta), e fomos na famosa La Plaza Major, palco do filme Ponto de Vista, e especialmente, palco de uma história curiosa da minha família. Na década de 70, meus pais estavam naesta praça com meus irmãos ainda pequenos e ouviram uma mulher chamar o filho dela de "Ramón!". Eles gostaram e colocaram esse nome no meu irmão, Nuno.

Essa e muitas outras histórias estavam presentes o tempo todo na viagem, e desta vez, de maneira mais especial, estava mais perto do que nunca da minha família. Quando cheguei em Portugal, nem preciso falar. Ora pois, meu gajo! Que país maravilhoso. Infelizmente muita gente tem preconceito em visitá-lo, ou acho que não terá muita graça. É o país mais bonito que estive e quero conhecer muitas outras cidades ainda. Ficamos em Parede, do lado de Cascais, Estoril e Sintra, e a 17km de Lisboa. Como estávamos de carro, isso foi um fator muito benéfico na questão de locomoção. Cabo da Roca, o ponto mais ocidental do continente europeu nos presenteou com uma vista absurda. E, como já descrito em algumas redes sociais, tive o privilégio de poder visitar a casa por onde meus pais fizeram história por mais de 7 anos em Portugal, na famosa Rua Antônio Stromp, n.5. Várias histórias passando na cabeça e a imaginação de como era a vida naqueles tempos se construindo e desenhando em minha mente. Visita a escola em que meus irmãos mais velhos se alfabetizaram, nos estádios de futebol que minha família sempre gostou e uma visita especial para um grande amigo daquela época, Delmiro (e família), os quais nos recepcionaram muito bem e nos proporcionaram uma noite na melhor tradição familiar portuguesa. Até um jogo do Benfica no domingão pude conferir. Vai vendo!


Em Portugal, a educação nas escolas exige o aprendizado da língua inglesa e da língua francesa por no mínimo três anos, e após este período você tem que escolher uma delas para se especializar. E, do que vimos, a grande maioria da população tem este conhecimento e para a Fanny, seu irmão e o amigo se comunicar em francês não foi um problema. Inclusive, várias vezes, o pessoal se empolgava em falar com eles, e quem acabava me traduzindo era ela. E o brasileiro ainda achando engraçada as piadas com portugueses.

Como de costume no continente europeu, cada lugar visitado você descobre a história do mundo, e que naquele lugar algo de importante aconteceu. É impressionante. E com Portugal não poderia ser diferente. Na visita ao famoso Mosteiro dos Jerónimos, além de toda história de Portugal, um pouco do Brasil e de grandes nomes da cultura portuguesa, estava o túmulo de Fernando Pessoa, um dos escritores que mais gosto. Muito bacana! E, para não perder o costume, quando estava dirigindo rumo ao Oceanário, peguei uma equerda e uma direita errados e blau, caímos em outra cidade. Juro! E não é que estava rolando aquelas paradas com os touros nas ruas, correndo atrás de um monte de malucos desesperados nas ruas? Particularmente não gosto disso, mas ver a tradição de perto foi algo diferente.


Histórias, aprendizado, conhecimento e diversão! Mais uma das viagens para ficar na memória, e para me mostrar que na verdade, sei que nada sei.

Thiago "Tôca" Santos

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Capítulo 43: Uma vez fui viajar e não voltei

Não gosto muito de postar textos aqui que não são produzidos pela minha pessoa, mas quando estes são geniais, vale a pena compartilhar. É o caso do texto do Marcelo Penteado, que rolou no Facebook esta semana, principalmente nas Fan Pages de intercâmbio. 

Texto diferente, apesar do tema batido, mas sem ser clichê. Enfim, chega de enrolar e lê aê!

[...]



"Uma vez fui viajar e não voltei.
Não por rebeldia ou por ter decidido ficar; simplesmente mudei.
Cruzei fronteiras que eu nunca imaginaria cruzar. Nem no mapa, nem na vida. Fui tão longe que olhar para trás não era confortante, era motivador.
Conheci o que posso chamar de professores e acessei conhecimentos que nenhum livro poderia me ensinar. Não por serem secretos, mas por serem vivos.
Acrescentei ao dicionário da minha vida novos significados para educação, medo e respeito.
Reaprendi o valor de alguns gestos. Como quando criança, a espontaneidade de sorrisos e olhares faz valer a comunicação mais universal que há – a linguagem da alma.
Fui acolhido por pessoas, famílias, estranhos, bancos e praças. Entre chãos e humanos, ambos podem ser igualmente frios ou restauradores.
Conheci ruas, estações, aeroportos e me orgulho de ter dificuldade em lembrar seus nomes. Minha memória compartilha do meu desejo de querer refrescar-se com novos e velhos ares.
Fiz amigos de verdade. Amigos de estrada não sucumbem ao espaço e nem ao tempo. Amigos de estrada cruzam distâncias; confrontam os anos. São amizades que transpassam verões e invernos com a certeza de novos encontros.
Vivi além da minha imaginação. Contrariei expectativas e acumulei riquezas imateriais. Permiti ao meu corpo e à minha mente experimentar outros estados de vivência e consciência.
Redescobri o que me fascina. Senti calores no peito e dei espaço para meu coração acelerar mais do que uma rotina qualquer permitiria.
E quer saber?
Conheci outras versões da saudade. Como nós, ela pode ser dura. Mas juro que tem suas fraquezas. Aliás, ela pode ser linda.
Com ela, reavaliei meus abraços, dei mais respeito à algumas palavras e me apaixonei ainda mais por meus amigos e minha família.
E ainda tenho muito que aprender.
Na verdade, tais experiências apenas me dirigem para uma certeza – que ainda tenho muito lugar para conhecer, pessoas a cruzar e conhecimento para experimentar.
Uma fez fui viajar…
e foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta."