quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Capítulo Extra: A vida pós-intercâmbio

"Que a estrada se erga ao encontro do seu caminho
Que o vento esteja sempre às suas costas
Que o sol brilhe quente sobre a sua face
Que a chuva caia suave sobre os seus campos
E até que nos encontremos de novo
Que Deus o guarde na palma de sua mão."

Benção Irlandesa

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Caramba! Que saudades de escrever neste blog. Logar, clicar em "nova postagem" e escolher uma frase para o texto. Nostalgia boa de ser sentida. 

Já deixo avisado que este será um capítulo um pouco mais longo, porém se você tiver interesse e curiosidade, convido-lhes a compartilhar comigo esta experiência, a qual creio que você se identificará em alguma parte, se não agora, no futuro.

Após um ano do encerramento deste livro/blog volto para um post especial sobre o fim do intercâmbio e o re-começo da vida no Brasil. Afinal, existe vida pós intercâmbio? Sim, existe. É fato que ela demora um pouco para ganhar forma e sentido, mas com o passar do tempo ela aparece.



Uma vez ouvi de um amigo, um pouco antes de ir para o intercâmbio, que eu deveria me preparar melhor para voltar do que para ir. E isso me voltou a mente quando chegou o momento de partir e nunca fez tanto sentido quanto antes. Fiquei completamente anestesiado e longe da realidade durante a minha primeira semana em São Paulo novamente. Tudo estava diferente, todos estavam diferentes, o que havia acontecido? Bem, na verdade, eu que não era mais o mesmo e descobriria isso com o passar dos dias.

Neste período em que fiz meu intercâmbio, apesar de dividir a casa com dois loucos que eu tenho muitas saudades (Roberta e Vê), eu ganhei uma independência e uma rotina de vida que foi totalmente quebrada ao voltar a morar com meus pais. Você abre mão de algumas coisas, porém ganha outras em troca. Em resumo, não reclamo de nada, apenas agradeço. Se não fosse pelos meus pais e meus irmãos este intercâmbio não teria existido. Tenho vontade de morar sozinho novamente? Sim, mas o tempo chegará quando for a hora. Quando moramos na Europa e fazemos amizades com pessoas da nossa idade, vemos que a vida deles é diferente e a mudança de casa mais cedo do que nós é natural e meio que queremos aquilo para nossa vida também. Mas ao voltarmos percebemos que a vida aqui não é assim, e principalmente por motivos financeiros, nossa realidade é outra. Por isso, enquanto isso, eu aproveito a vida ao lado deles e, diga-se de passagem, muito feliz.

Engraçado que logo que regressei, eu já comecei os meus planos de voltar para a Irlanda novamente, muito por conta da minha namorada que havia ficado por lá. Mas também pelo país, pela cultura, pela cidade de Dublin e pelos mínimos detalhes que fizeram daquele um dos melhores momentos da minha vida. Minhas pedaladas para a escola e para o trabalho, minhas gororobas que eu apenas comia na sobrevivência, as visitas que recebi, as viagens que fiz, o som da buzina do Luas, as folhas pelo chão, o frio de congelar e a maravilhosa cerveja dos deuses, aquele líquido preto inesquecível, a Guinness. Pensei que nunca mais me acostumaria a viver aqui. Reclamava com meus amigos que eles não eram mais os mesmos e sentia um vazio em que não havia conexão entre corpo, cabeça e ambiente. Foi desesperador, mas muito rico ao mesmo tempo. 

Os aprendizados e as experiências que recebemos com o intercâmbio começaram a aparecer aqui e eu tive que assimilar e enxergar isto. Foi um ano espetacular, mas a vida continua e os aprendizados e vivências não param, apenas são diferentes, porém tão ou mais intensos e importantes. E, olhando para trás agora, vejo que tudo teve o seu tempo para acontecer e tudo o que aconteceu tinha que ter acontecido assim. Fui impaciente, fui injusto com a vida em minhas reclamações, fui apenas humano, demasiadamente humano. Mas, após a poeira abaixar, tudo isto deu lugar a gratidão.



Se cabe a mim dar algum conselho a alguém nesta mesma situação, eu repasso o que ouvi: prepare-se para o seu regresso e se planeje. Isto fará toda a diferença. Quando voltei, apesar de perdido, já tinha alguns planos e ideias em mente e uma delas, a maior mudança profissional da minha vida aconteceu. Abri uma agência de viagens (3R TUR) com meus irmãos e estou realizando o sonho de ser empresário e dono do próprio negócio. Trabalhando muito, aprendendo mais ainda e com sede de fazer muitas coisas na minha vida. O intercâmbio me ajudou a ser mais seguro, a acreditar mais que se eu batalhar as chances de eu conseguir serão maiores e, além disso tudo, foi uma viagem tão ou mais interna do que externa. 

Aprendi, mais uma vez, que pessoas passam por nossas vidas e, apesar de não continuarem no nosso dia a dia, levam um pouco da gente com eles e deixam um pouco deles conosco. Hoje posso dizer que tenho amigos espalhados por este planeta, os quais já pude rever alguns e outros eu ainda verei. E isto me emociona e muito ao receber um postal do outro lado do oceano em uma quarta-feira qualquer.

Meu namoro continua firme e forte e, como sempre estamos aprendendo algo novo, tanto eu quanto a Fanny tivemos que nos adaptar a distância. Pudemos nos visitar durante este ano, porém descobrimos uma dor e um aperto no coração que esperamos que acabe logo. Apesar da distância, me aproximei mais ainda de sua família e de seus amigos e isso me faz ser uma pessoa mais feliz, sem dúvida alguma. Te amo, meu amor!

Sei que o texto é muito sobre mim e, de repente para quem está lendo isto pareça egocêntrico demais, porém eu prefiro escrever na primeira pessoa e trazer as minhas experiências e falar com o coração, do que escrever na primeira pessoa do plural e ser superficial. 

Minha paixão em escrever aumentou muito com este blog e, apesar da dinâmica ser profissional, semanalmente produzo conteúdo para o Blog da 3R TUR, o que me lembra dos meus velhos tempos no blogspot. Continuo acompanhando os blogs de amigos irlandeses e muito conteúdo no youtube sobre intercâmbio. Sem dúvida que isto me ajuda muito no dia a dia do trabalho, além de toda vivência que tive. Mudar de área profissional não é algo fácil, porém quando no futuro olhar para trás na minha vida quero ter um sorriso de satisfação e não um olhar de arrependimento com a vida.

Você que nunca fez intercâmbio, faça. Não importa a sua idade. É uma experiência indescritível e algo que ficará marcado na vida para sempre. Afaste o medo, afaste os fantasmas do comodismo. Corra de braços abertos, você não se arrependerá!

Antes de encerrar, deixo um recado aqui para um lugar especial. Sim, você mesmo Dublin. Eu já sabia que você me enviaria as saudades quando eu decidi partir, porém eu não sabia que estas saudades seriam tão intensas. Não teve um dia sequer neste um ano que não lembrei de você, do chão molhado, dos pubs cheios ou do acolhimento que recebi. Me senti tão seguro em suas terras que aquele receio que tive antes de te conhecer se transformou em uma hesitação antes de voltar para a minha casa. Sei que deixei um pouco de mim por lá e trouxe uma parte comigo. Sinta-se à vontade em mandar as saudades para me fazer uma visita, mas neste momento estou me adaptando melhor com a ideia de ter você na minha vida como uma memória e um período especial inesquecível. Foram dias incríveis.



Um grande abraço para vocês, leitores. Foi uma honra poder dividir um pouco mais da minha experiência com vocês. Fé em Deus, Fé na Vida!

"Um dia fui viajar e foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta".

Thiago "Tôca" Santos

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Capítulo Final!

"Sempre é preciso saber quando uma etapa está chegando ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais tempo do que o necessário perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver"

Fernando Pessoa

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Como diria Truman - o personagem de Jim Carey no filme O Show de Truman - "Caso eu não os veja novamente, bom dia, boa tarde e boa noite".

É com está frase acima que inicio aquele que será o último capítulo deste blog e desta aventura sensacional que foi o meu intercâmbio na Irlanda nos anos 2012 e 2013, a qual vocês puderam acompanhar - em partes - por aqui. 

Após meses de estudo, mais alguns meses de trabalho, onze países viajados, várias cidades na Irlanda visitadas, pessoas novas se apresentando e se despedindo, (muita) batata nas refeições, um novo amor na minha vida e histórias que renderão bons momentos ainda, me despeço de um país que nunca mais será o mesmo para mim. 

Agradeço desde já todos vocês, leitores, que acompanharam, que comentaram, que curtiram a Fan Page no Facebook, que mandaram mensagens, torceram por mim, viajaram junto comigo, e alguns de maneira mais especial puderam e tiveram a chance de me visitar. Meu muito obrigado! - E de forma especial aos meus pais, sem os quais nada disso seria possível. 

Tropecei na questão que diz respeito a trabalho, apesar de ter lutado e tentado muito, infelizmente certas coisas não dependem só de mim. Oportunidades que não apareceram, pessoas para me indicar que eu não conheci, o fator de ter o visto de estudante e nenhuma cidadania européia me atrapalharam, mas apesar disso ainda consegui lavar uns pratos, juntar a minha grana e viajar por aqui, o que era o meu objetivo desde o começo.

A questão do inglês saio mais do que satisfeito. Tenho muito o que aprender ainda, mas daquele inglês macarrônico que cheguei para o comunicável que tenho hoje em dia, missão cumprida. 

Voltarei outro, mas um outro que apenas continua aprendendo com a vida e que sabe que nada sabe ainda. Experiência, maturidade, conhecimento nunca serão demais e continuarei buscando evoluir com o passar dos dias, onde quer que eu me encontre no futuro. Assim como Alexander Supertramp se expressa, fonte de inspiração para este blog - Into The Wild - continuo procurando o meu Norte. Qual será o próximo capítulo?

Antes de encerrar, deixo com vocês meu último vídeo, o qual gravei um pouco antes de sair de Dublin, gravando imagens de lugares os quais estive sempre por lá durante este ano. 


Parafraseando o gênio Woody Allen, eu não tenho medo de ir embora, apenas não quero estar lá quando isto acontecer. 

Thiago Tôca Santos


FIM

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capítulo 47: Para Roma com amor!

"Força e Honra"

Gladiador

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Ave Caesar! 

É com está saudação que começo o penúltimo capítulo deste blog, a qual não poderia ser de forma mais especial por tratar sobre minha viagem à Roma. É meus amigos, sabe todas aquelas histórias que você já ouviu de familiares, amigos, desconhecidos, livros, televisão, filmes, que retratam a capital italiana como um dos lugares mais fantásticos e bonitos no mundo? Pois é, tudo verdade. 

Roma sempre foi um dos lugares que mais quis conhecer no mundo, e estava na minha lista de prioridades quando me mudei para este lado do oceano. Mas, por algumas mudanças no percurso no intercâmbio e escolhas, quase que ficou de fora. Ainda bem que consegui recuperar isso e, fechando este ciclo de viagens antes do meu retorno ao Brasil, concluo este ano "sabático"com chave de ouro. 

Coliseu e o Gladiador (depois da guerra!)

Em Roma sente-se o peso da História, mas de uma forma que não nos sintamos intimidados. Neste lugar onde deuses romanos, ruínas seculares e sólidos monumentos se fazem presente a cada esquina, tudo isso convive familiarmente com o mais comum dos mortais, nós seres humanos. E mesmo perdidos nas vielas, praças e labirínticas vias, nos encontramos sempre. Como li estes dias: 

"Nas suas vivências e personagens, nas suas histórias e memórias, que fazem da capital italiana uma metrópole cheia de adjetivos, simples e banais, palavras usadas para lhe emprestar por escrito uma aura que tem tanto de mística como de mítica, tudo de romântica, mas também de trepidante e caótica".

Nós meio que estávamos na ânsia de conhecer tudo de uma só vez, Museu do Vaticano - Capela Sistina, Igreja de São Pedro, Coliseu, Fontana de Trevi, Fórum Romano, Panteão, ver o Papa, comer pizza, experimentar o famoso sorvete, se empanturrar com massas e perceber que de moda temos muito o que aprender com os italianos. 

Poder ver o túmulo do apóstolo Pedro, poder respirar a obra fantástica de Michelangelo no teto da Capela Sistina, poder admirar a pintura que mais gosto (Escola de Atenas, Raphael), estar dentro do coliseu e ficar observando as águas correndo na Fontana de Trevi são imagens e momentos que me acompanharão na lembrança por toda a vida. E sim, o Papa estava lá e nós tivemos a chance de vê-lo e de assistir a missa no domingo de manhã junto com mais zilhões de pessoas ao nosso redor. 

Fontana de Trevi

E agora caímos na inevitável frase feita, realmente todos os caminhos vão dar em Roma. Ou seja, não há como esgotar a capital italiana, por todo lado e por toda parte haverá sempre algo novo para se ver e aprender. 

Só uma curiosidade e uma opinião pessoal para fechar o capítulo. Sabe a tradicional pergunta: Qual a melhor pizza do mundo? Atenção produção, polêmica: ainda fico com a de São Paulo. O sabor e o gosto são os mesmos, mas o diferencial pra mim em São Paulo é a variedade de sabores que temos. 

"You and me, we're meant to be, walking free in harmony, one fine day we'll fly away, don't you know that Rome wasn't built in a day, ye ye ye..."



Thiago "Tôca" Santos

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Capítulo 46: Je t'aime, Fanny!

"Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure"

Vinícius de Moraes

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Talvez esse seja o capítulo mais especial deste blog, pois o é dedicado a pessoa mais especial para mim e a melhor coisa que poderia ter acontecido neste intercâmbio. Minha namorada, Fanny.

Não sei se fui uma pessoa boa ou não no ano de 2012, mas sei que o Papai Noel me dedicou o melhor presente de todos. Foi na noite do dia 24 de dezembro que, após a consulta de um amigo francês se ele poderia convidar uma amiga para a ceia, nos conhecemos. E depois desse dia o resto é história...

Desde o começo sabíamos da nossa situação e que está fusão França x Brasil poderia nos trazer difíceis decisões no futuro. Mas resolvemos seguir o caminho do presente e aproveitar o momento. Carpe Diem and seize the day. 

No começo a comunicação era um pouco truncada, devido ao meu fraco inglês, e muitos gestos, portunhol, caretas e risadas da situação se faziam presente. Uma cumplicidade e um encanto.

Mal e mal o barco começou a andar e ela recebeu uma proposta para morar em outra cidade, devido a uma ótima oportunidade de trabalho. Um baque, uma decisão, continuaríamos juntos à distância? Sim. E foi maravilhoso. Um pouco cansativo também pelas viagens de final de semana, mas as quais valiam a pena apenas por ver o seu sorriso quando nos encontrávamos. 

Não me sentia mais sozinho e, finalmente, tinha alguém com quem dividir a minha vida, os meus problemas, as peripécias rotineiras. E vice-versa. 

Não demorou muito para ficar sério, e aí a família e os amigos são apresentados. Ainda que alguns pessoalmente, a maioria por meios virtuais, mas não menos importantes. 

Fanny, mais do que uma namorada, você foi minha companheira, minha força, minha esperança, meu refúgio, minha amiga, minha razão de continuar aqui por mais tempo do que o planejado.

Não me estenderei neste post, pois tudo o mais que tenho para lhe falar o farei pessoalmente, e apenas para quem importa: você. Divido com os leitores deste blog um pouco do porque do sorriso no meu rosto, mas a intimidade, isso fica entre nós. 

Obrigado à todos que junto conosco se alegraram e nos desejam coisas boas. Quanto ao futuro que é a pergunta que mais ouço atualmente, deixemos nas mãos de Deus e deixa a vida nos levar...

Para finalizar, um vídeo que fiz para homenageá-la e mostrá-la o meu amor!


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Capítulo 45: Adelaide Road Presbyterian Church

"Seja forte e corajoso! Não fique desanimado, nem tenha medo, porque eu, o SENHOR, seu Deus, estarei com você em qualquer lugar para onde você for!"

Josué 1.9

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Antes de começar a escrever este post gostaria de fazer um adendo. Sou um cara muito mente aberta, respeito as pessoas, suas crenças, opções, jeitos, etc. Não sou de ficar fazendo pregação, mas isso não quer dizer que não tenha minha crença e filosofia de vida. Sempre ouço das pessoas um apreço por determinadas filosofias, sejam budistas, umbandas, ou quaisquer outras, e mesmo quem não as segue as tem como diferentes, exóticas e interessantes. Mas é só falar que você crê em Deus que você é um babaca, alienado. "Respeite-me porque sou ateu, mas você crê em Deus? Que idiota.". Santa incoerência. Não sou muito de discutir religião, apenas quando sinto que a outra pessoa quer trocar ideia e tem algo a acrescentar, ao invés de me julgar. Hoje em dia dizer que sou evangélico eu não gosto, porque é tanta igreja de esquina capitalista que acaba sujando a imagem das demais. Sou luterano, uma igreja muito tradicional. Dito isso, não farei um post de pregação e não quero converter ninguém a nada, apenas quero expressar o significado e a importância da igreja neste meu período na Irlanda. Acho válido fazer essa reflexão antes para evitar futuros desconfortos. Cada um é livre e faz o que quiser da vida, e essa é uma das belezas de se viver. 

Em frente a Igreja Luterana

Mas vamos lá, do começo. No princípio criou... ok! Não tão do princípio assim. Antes de vir para Irlanda, na hora em que fui me despedir dos meus pais, eles me leram o Salmo 121 e me dedicaram este versículo de Josué acima para a minha viagem. E, este acabou sendo um dos meus temas aqui, sempre presente no meu dia a dia ou, de maneira mais especial, quando um desafio se fazia presente.

Como dito antes, sou luterano e logo que cheguei aqui procurei uma igreja luterana na internet com a ajuda do meu pai. Ao chegar no domingo e ouvir os primeiros 5 minutos do culto, pensei algo: 

"Cara, o meu inglês está pior do que eu imaginava!".

Mas, não. Após alguns minutos percebi que o culto estava sendo feito em alemão, e que os cultos em inglês eram apenas no último final de semana do mês. Ao caminhar de volta para casa, pensando no que faria a este respeito, encontrei uma igreja Presbiteriana (que segue praticamente a mesma linha), e resolvi começar a frequentá-la, ao passo que lá o culto era em inglês. E fui muito bem acolhido. Todos se encantavam com o fato de eu ser brasileiro e queriam saber se eu tinha sido bem acolhido pelo povo irlandês. Frequentei lá durante todo este ano que estive por aqui, sendo o meu "alimento espiritual" para me manter firme e forte nesta experiência. Como diz o livro de Provérbios: "Ensina o teu filho no caminho em que deve andar, e até quando for velho não se desviará dele". Sou de família cristã e recebi esta instrução desde o berço. 

Assumo que, no começo, era um pouco difícil de acompanhar o culto inteiro em inglês, com muito vocabulário novo e uma fala muito rápida por parte do pastor e dos membros da igreja. Mas, tinha uma parte do culto, que alguém fazia um resumo do que estava sendo falado para as crianças, de uma forma bem lúdica e fácil. Ah garoto, essa parte era sensacional. E lógico, apesar da concentração master, minha cara era a de quem já tinha entendido tudo antes. 

Para fechar, antes de me mudar para Dundalk no último final de semana, fui no último culto da igreja. E, por incrível que pareça, pela primeira vez em um ano eles ofereceram a Santa Ceia. Para quem tem um pouco de conhecimento, sabe que este é, se não o mais, um dos momentos mais íntimos de comunhão com o Senhor e, após o aval do pastor, pude participar e encerrar com chave de ouro mais esta parte também. 


Site da Adelaide Road Presbyterian Church: http://www.adelaideroadchurch.ie/

Se você não é cristão e leu este post até aqui, obrigado pelo respeito. Qualquer dúvida ou interesse, pode deixar um comentário aqui embaixo.

Thiago "Tôca" Santos

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capítulo 44: Sul da França, um pouco da Espanha e Portugal

"Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar por si, com os olhos dos pés, para entender o que é seu"

Amyr Klink

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Aí chegou o dia que ela me falou:

- Thiago, está na hora de você conhecer o resto da minha família. Está na hora de você conhecer o meu pai.

Putz.

Após terminar o meu último trabalho, planejei com a Fanny uma viagem por três países durante 10 dias. Fizemos um roteiro bacana, procurando um espírito mais aventureiro e menos turista desta vez. Visitaríamos a família dela no sul da França (Biarritz, Bayonne, Pau, etc.) e partiríamos de carro rumo a Portugal, cortando pela Espanha. Até porque a outra opção seria pelo oceano.

Tudo o que não tomei de vinho durante a minha vida, tomei nestes dias. No meu relacionamento com a Fanny a nossa comunicação é em inglês o tempo todo, mas quando estamos com a família ou os amigos dela ou meus, a questão da língua é um fator importante que fica prejudicado. Não é tão simples assim se virar nos gestos ou sorrir o tempo todo. A falta de comunicação gera uma não proximidade, ou pelo menos uma proximidade menor daquela esperada, infelizmente. Um tem que traduzir para o outro o tempo todo, e nunca conseguimos traduzir 100% as expressões ou o contexto do momento. É a mesma coisa que pedir para repetir uma piada. Mas, apesar disso tudo procurei aprender algumas frases, conversar em inglês com quem podia, e quando não entendia nada, fazia o levantamento de copo.


Em apenas dois dias no sul da França, descobri o lugar que gostaria de passar o resto da minha vida. A cidade que fiquei fazia parte do caminho de Santiago de Compostela (se você já viu o filme The Way, sabe do que estou falando. Se não viu, vale o play). É uma outra realidade, uma outra arquitetura, uma outra forma de viver. Tudo é tranquilo, tudo é simples, e eles são muito família. Biarritz é uma das cidades mais chiques que já estive na vida, e por ter sido palco no passado de castelos de reis e rainhas que tiravam suas férias por lá, é uma casa mais bonita que a outra a cada esquina. Bayonne era a cidade que a Fanny morava, trabalhava e estudava. Ela procurou me mostrar algumas especialidades do local na parte culinária, e vou te falar, francês come bem demais, além de comer muito. Normalmente eles dividem a refeição em: entrada, prato principal, sobremesa e queijo (às vezes com salada) por último. No final da viagem o cinto da minha calça já estava pulando um buraco.

Já na viagem para Portugal, estávamos em quatro pessoas, pois o irmão dela e um amigo se juntaram à nós. Ouvi francês, falei inglês e traduzia pro português. Ou seja, se vocês já não me entendem aí no Brasil, imagina aqui? E que viagem sensacional! Pegar o carro, cortar uma país, rodar nas estradas até a perna reclamar. Que demais! Fizemos uma pausa em Salamanca, na Espanha. Conhecemos a cidade (tanto na ida, como na volta), e fomos na famosa La Plaza Major, palco do filme Ponto de Vista, e especialmente, palco de uma história curiosa da minha família. Na década de 70, meus pais estavam naesta praça com meus irmãos ainda pequenos e ouviram uma mulher chamar o filho dela de "Ramón!". Eles gostaram e colocaram esse nome no meu irmão, Nuno.

Essa e muitas outras histórias estavam presentes o tempo todo na viagem, e desta vez, de maneira mais especial, estava mais perto do que nunca da minha família. Quando cheguei em Portugal, nem preciso falar. Ora pois, meu gajo! Que país maravilhoso. Infelizmente muita gente tem preconceito em visitá-lo, ou acho que não terá muita graça. É o país mais bonito que estive e quero conhecer muitas outras cidades ainda. Ficamos em Parede, do lado de Cascais, Estoril e Sintra, e a 17km de Lisboa. Como estávamos de carro, isso foi um fator muito benéfico na questão de locomoção. Cabo da Roca, o ponto mais ocidental do continente europeu nos presenteou com uma vista absurda. E, como já descrito em algumas redes sociais, tive o privilégio de poder visitar a casa por onde meus pais fizeram história por mais de 7 anos em Portugal, na famosa Rua Antônio Stromp, n.5. Várias histórias passando na cabeça e a imaginação de como era a vida naqueles tempos se construindo e desenhando em minha mente. Visita a escola em que meus irmãos mais velhos se alfabetizaram, nos estádios de futebol que minha família sempre gostou e uma visita especial para um grande amigo daquela época, Delmiro (e família), os quais nos recepcionaram muito bem e nos proporcionaram uma noite na melhor tradição familiar portuguesa. Até um jogo do Benfica no domingão pude conferir. Vai vendo!


Em Portugal, a educação nas escolas exige o aprendizado da língua inglesa e da língua francesa por no mínimo três anos, e após este período você tem que escolher uma delas para se especializar. E, do que vimos, a grande maioria da população tem este conhecimento e para a Fanny, seu irmão e o amigo se comunicar em francês não foi um problema. Inclusive, várias vezes, o pessoal se empolgava em falar com eles, e quem acabava me traduzindo era ela. E o brasileiro ainda achando engraçada as piadas com portugueses.

Como de costume no continente europeu, cada lugar visitado você descobre a história do mundo, e que naquele lugar algo de importante aconteceu. É impressionante. E com Portugal não poderia ser diferente. Na visita ao famoso Mosteiro dos Jerónimos, além de toda história de Portugal, um pouco do Brasil e de grandes nomes da cultura portuguesa, estava o túmulo de Fernando Pessoa, um dos escritores que mais gosto. Muito bacana! E, para não perder o costume, quando estava dirigindo rumo ao Oceanário, peguei uma equerda e uma direita errados e blau, caímos em outra cidade. Juro! E não é que estava rolando aquelas paradas com os touros nas ruas, correndo atrás de um monte de malucos desesperados nas ruas? Particularmente não gosto disso, mas ver a tradição de perto foi algo diferente.


Histórias, aprendizado, conhecimento e diversão! Mais uma das viagens para ficar na memória, e para me mostrar que na verdade, sei que nada sei.

Thiago "Tôca" Santos

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Capítulo 43: Uma vez fui viajar e não voltei

Não gosto muito de postar textos aqui que não são produzidos pela minha pessoa, mas quando estes são geniais, vale a pena compartilhar. É o caso do texto do Marcelo Penteado, que rolou no Facebook esta semana, principalmente nas Fan Pages de intercâmbio. 

Texto diferente, apesar do tema batido, mas sem ser clichê. Enfim, chega de enrolar e lê aê!

[...]



"Uma vez fui viajar e não voltei.
Não por rebeldia ou por ter decidido ficar; simplesmente mudei.
Cruzei fronteiras que eu nunca imaginaria cruzar. Nem no mapa, nem na vida. Fui tão longe que olhar para trás não era confortante, era motivador.
Conheci o que posso chamar de professores e acessei conhecimentos que nenhum livro poderia me ensinar. Não por serem secretos, mas por serem vivos.
Acrescentei ao dicionário da minha vida novos significados para educação, medo e respeito.
Reaprendi o valor de alguns gestos. Como quando criança, a espontaneidade de sorrisos e olhares faz valer a comunicação mais universal que há – a linguagem da alma.
Fui acolhido por pessoas, famílias, estranhos, bancos e praças. Entre chãos e humanos, ambos podem ser igualmente frios ou restauradores.
Conheci ruas, estações, aeroportos e me orgulho de ter dificuldade em lembrar seus nomes. Minha memória compartilha do meu desejo de querer refrescar-se com novos e velhos ares.
Fiz amigos de verdade. Amigos de estrada não sucumbem ao espaço e nem ao tempo. Amigos de estrada cruzam distâncias; confrontam os anos. São amizades que transpassam verões e invernos com a certeza de novos encontros.
Vivi além da minha imaginação. Contrariei expectativas e acumulei riquezas imateriais. Permiti ao meu corpo e à minha mente experimentar outros estados de vivência e consciência.
Redescobri o que me fascina. Senti calores no peito e dei espaço para meu coração acelerar mais do que uma rotina qualquer permitiria.
E quer saber?
Conheci outras versões da saudade. Como nós, ela pode ser dura. Mas juro que tem suas fraquezas. Aliás, ela pode ser linda.
Com ela, reavaliei meus abraços, dei mais respeito à algumas palavras e me apaixonei ainda mais por meus amigos e minha família.
E ainda tenho muito que aprender.
Na verdade, tais experiências apenas me dirigem para uma certeza – que ainda tenho muito lugar para conhecer, pessoas a cruzar e conhecimento para experimentar.
Uma fez fui viajar…
e foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta."