domingo, 11 de novembro de 2012

Capítulo 4: Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja, 
quem não lê, 

quem não ouve música, 
quem destrói o seu amor-próprio, 
quem não se deixa ajudar. 

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, 
repetindo todos os dias o mesmo trajeto, 
quem não muda as marcas no supermercado, 
não arrisca vestir uma cor nova, 
não conversa com quem não conhece. 

Morre lentamente quem evita uma paixão, 
quem prefere o "preto no branco" 
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, 
justamente as que resgatam brilho nos olhos, 
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos. 

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, 
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, 
quem não se permite, 
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. 

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da 
chuva incessante, 
desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, 
não perguntando sobre um assunto que desconhece 
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. 

Evitemos a morte em doses suaves, 
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples ato de respirar. 
Estejamos vivos, então! 



Pablo Neruda

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